Para: Terezinha Maria de Jesus
Quantas de nós
Ainda seremos
arrastadas?
Quantas de nós?
Perderemos
nossos filhos?
Quantas de nós
Não saberemos
mais o paradeiro dos nossos maridos?
Ainda não nos
tiraram do tronco
Apanhamos
todos os dias
Com o chicote
da hipocrisia.
E o carrasco carrega um fuzil
E uma farda
que o Estado vestiu
O Estado é
como Pôncios Pilatos
Que lava suas
mãos
E deixa a PM
fazer a função.
E enquanto eu
fazia minha oração
Pedindo
proteção para Jesus
O meu Jesus era crucificado
Mesmo sem ser culpado.
E enquanto rezava
para Jesus Salvador
Meu Jesus
Nem sequer se
salvou.
Meu Jesus não
era sábio
No entanto, trazia consigo
A pureza das crianças
Maior dádiva
De um mundo
sem esperança.
Me sinto como
Maria
Com o filho
morto nos braços
Um Jesus sem
ser culpado
Mas que foi
crucificado.
A cruz
Agora terei
que carregar
Assim como
aquelas mães
Que carregam
suas dores
De um história
que se repete
Sem ter data
pra terminar.
Mães de Maio
Mães dos morros
Mães dos becos
e vielas
Mães Pretas
Que carregam a
cruz
De um filho
morto na favela.
Cruz do sistema
Que crucificam
nossos filhos
E deixam as
chagas
Feitas com
marcas de balas.
Para o Jesus
de hoje
Não haverá ressurreição
Mas sei que
subirá ao céu
Enquanto eu
subirei o morro
Todos os dias com a dor
E o sofrimento no coração.
Eu terei a
certeza
Que Jesus é
negro
É criança
E é meu.
Jesus que
deixou a cruz
Para eu
carregar
Um Jesus que mesmo sem ser culpado
Pagou com a
vida
E foi crucificado.
(Karlinha Ramalho)
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