segunda-feira, 8 de junho de 2020

Reflexões sobre minha experiência na Casa de Paulo Freire e votos da periferia em Bolsonaro.(E eu não fui a manifestação, por questão de preservação da minha saúde)



Durante alguns anos da minha vida, eu fui alfabetizadora popular na Casa de Paulo Freire, um lugar que já alfabetizou mais de 4000 adultos e idosos em São Sebastião –DF  com o método Paulo Freire, idealizada por Elias Silva e Herlis Silva, ambos líderes comunitários da cidade.
Em sua maioria era um público da classe trabalhadora, mais velhos,  alguns idosos aposentados , boa parte evangélicos e pelo fato de não terem tido acesso a leitura e escrita em suas vidas, supõe-se que tiveram uma vida bem difícil.
Grande parte, eram  trabalhadores autodidatas, como: marceneiro, pedreiro, serralheiro, diarista e dona de casa. Frequentavam a Casa com a vontade de aprender  a ler e escrever.
Nós, educadores populares freireanos, tínhamos um papel de dialogar e principalmente colocar questões que os fizessem refletir seus lugares como classe trabalhadora, já que esse é um dos princípios da educação freirena, “ a leitura do mundo” em um processo de aprendizagem mútua.
Muitos desses senhores e senhoras, votaram no Bolsonaro, alguns pelo restrito acesso que eles têm a certas informações, alguns convencidos pelas igrejas, que chega muito mais a esse público do que a própria esquerda. Com isso, era um processo de formação, de diálogo e afeto, fazendo muitos refletirem se o presidente que eles votaram, realmente defende seus interesses.
A periferia jovem foi as ruas,  a periferia de esquerda foi as ruas, os partidos e movimentos de esquerda foram as ruas. No mundo, há um levante de movimentos negros  lutando contra o racismo que há séculos vem matando a população negra de todo o planeta, sem reparação e sem uma mudança de fato, pois vivemos a séculos e séculos em uma sociedade racista e governos e  justiça pouco se movimentam para mudar essa situação, muito pelo contrário, o que se ver no mundo é um aumento de governos autoritários e racistas e a violência policial cada vez mais latente nas favelas do país, matando em sua maioria a juventude negra a mando do Estado.
O mundo atual, vive uma pandemia que chegou ao Brasil e  que foi se alastrando e piorando, graças a um presidente irresponsável que não tomou as devidas providências e que tem se colocado contra qualquer movimento social, antirracista e antifascista. Não sugeriu nenhum plano de incentivo aos pequenos empreendedores e só liberou o auxílio emergencial, depois de muita pressão do Congresso, agindo de maneira lenta, desorganizada e negligente. O mesmo é um fascista e racista declarado e que a todo momento insulta  todo tipo de movimento pró democracia, ameaçando cada vez mais a democracia do país     . Se você for  nas periferias(do DF, por exemplo), ela está repleta de pessoas que compraram esse discurso do Bolsonaro e em alguns casos, porque certos debates que  conscientizam a população mais pobre, não chegaram até eles, somente a informação da mídia tendenciosa, das igrejas não progressistas e as Fake News. Quando nós, educadores populares,  puxávamos o debate  sobre essas questões, elas refletiam  se realmente estavam votando em alguém que ligado aos seus princípios cristãos de fato.
Por isso, nós, militantes, educadores e movimentos sociais, não podemos  esquecer a classe trabalhadora que em alguns casos, não tem acesso a certos debates que a juventude e que alguns movimentos sociais fazem. Porque as igrejas não progressistas e o discurso da direita(aliados as igrejas), muita vezes chegam muito mais nessa população do que as informações dos movimentos da classe trabalhadora, simplesmente porque os movimentos sociais, deixaram de fazem “movimentos de base”.
 Chego a conclusão  que não é só a elite preconceituosa que vota no Bolsonaro, nem só fascista vota no Bolsonaro,  mas também uma parcela sem acesso a outras informações que as conscientizem que Bolsonaro e muita gente da direita e afins só defendem os interesses da elite, dos grandes empresários e da branquitude, não é a toa que o presidente ofende tanto os professores, artistas independentes, movimentos e toda organização que de alguma forma tenta derrubar esse projeto de expandir a ignorância para a população, para que continuem alienados e comprem do discurso do opressor.

Karlinha Ramalho


Um comentário:

  1. Oi Karla, sim o despresidente faz este discurso de derrubar, professores, filosofos, historiadores, artistas para que não haja uma voz contra ele. A igreja evangelica e catolica fez uma lavagem cerebral mesmo

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