A pandemia, além de ter deixado uma sequela social de muitos óbitos por Covid 19 e perdas financeiras, também deixou outra sequela que deve ser vista com atenção: Que foi a sequela na saúde mental da população. Muitas pessoas, principalmente os jovens que ficaram em quarentena, presenciaram em seus ambientes familiares situações de desestruturação familiar e financeira. A falta de interação social, também afetou o emocional de muitos, O acesso às redes sociais aumentou grandemente e mudanças nos padrões sociais
As redes sociais atualmente além de um entretenimento, tem se tornado o maior meio de interação entre jovens. A interação social tem sido substituída pela interação virtual. No entanto, no “mundo virtual” há uma facilidade de forjar uma realidade, viver de aparência o que vem trazendo à tona a necessidade de perfeição, quando há comparações entre pessoas e estilos de vida, desde a questões estéticas e financeiras. A busca pela perfeição vem levando muitos jovens a depressão, porque o padrão estabelecido pelas redes sociais continua inatingível e ilusório.
A saúde mental e inteligência emocional veem sendo discutido recentemente, principalmente em relação a crianças e adolescentes. Há uma falsa ilusão que crianças e adolescentes têm menos problemas que os adultos, por isso muitas vezes não são escutados em relação aos seus conflitos emocionais, muitas vezes guardam para si suas emoções ou encontram fora do âmbito familiar um apoio e na pior das hipóteses, acabam descontando em drogas ou em más companhias.
Ter uma atenção maior para a saúde mental de crianças e adolescentes é garantir uma sociedade com adultos mais saudáveis e conscientes de suas ações e menos jovens vulneráveis a situações de suicídio, vícios e criminalidade.
Infelizmente os casos de suicídio de jovens veem aumentando devido à falta de um olhar para questões emocionais, ocasionada por diversos fatores, como segundo o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente:
“Pesquisas
indicam que 75% dos transtornos mentais do adulto começam antes dos 24 anos. No
caso dos adolescentes, metade tem início antes dos 14 anos. “A gente acaba
vendo o indivíduo que está deprimido com 20, com 30 anos, mas na verdade a
doença, a maioria, começou muito mais cedo”, diz. Um dos problemas que têm se
apresentado cada vez mais cedo é a autolesão. Um estudo da Universidade Federal
Fluminense (UFF), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio de Janeiro (Faperj), analisou casos de 61 alunos de 10 a 16 anos. Além de
mostrar que 83% dos casos parecem ocorrer por causa de conflitos familiares não
resolvidos, revelou ainda que a maioria está associada à depressão.
O espaço escolar, muitas vezes é o local de maior convívio de crianças e adolescentes e onde eles passam a maior parte do tempo, fora do espaço escolar, muitos desses jovens ficam sozinhos em casa ou na rua, já que seus pais precisam trabalhar. Pensar em um ambiente escolar saudável satisfatório e acolhedor também é de extrema importância para a melhora da saúde mental, não só para os jovens como também para os professores que estão sobrecarregados e sem apoio e em alguns casos, precisam lidar com questões trazidas pelos estudantes o que acaba trazendo uma carga emocional muito grande para eles.
O espaço da rua, ou seja, o espaço coletivo, também deve ser pensado para o acolhimento dessas crianças e jovens, com oportunidades saudáveis de lazer, esporte e cultura, algo que é bastante escasso em bairros periféricos e principalmente, onde a juventude convive com a criminalidade e violência constantemente.
Pensar em uma política pública de saúde mental e inteligência emocional para a juventude e englobar uma série de fatores que vão desde a terapias acessíveis, a ações de lazer, esporte, cultura, emprego, alimentação, boa convivência e educação de qualidade, tudo isso alinhado a escuta ativa dos anseios que os jovens trazem para os mais velhos, seja no espaço escolar, familiar e coletivo. Como diz muito bem uma famosa música do antigo grupo Charlie Brown Jr: “Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério. O jovem no Brasil nunca é levado a sério.”
Karla Ramalho
Pedagoga/ Psicopedagoga
Professora - SEDF
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