O cérebro humano,
não é um órgão inflexível, ele está sempre se moldando ao logo do tempo e de
acordo com os estímulos que lhe é oferecido. É na primeira infância que
corresponde o período de 0 a 6 anos, que a criança está mais sensível a receber
estímulos e assim moldar seu cérebro
cada vez mais. Estímulos esses que são feitos através de sensações, percepções
gustativas, auditivas, visuais e táteis e que acontecem principalmente na
interação do corpo e da mente com o meio. Além de tudo isso, o afeto, boa
alimentação, qualidade de vida, ou seja, um ambiente saudável é de extrema
importância para o bom desenvolvimento do individuo e consequentemente facilita
o desenvolvimento cognitivo. Como afirma Robeiro, Silva, Caneiro, nos estudos
sobre desenvolvimento infantil, baseado em Vygotsky:
“(...)
a memória, a linguagem e o pensamento são produtos de uma estrutura
sociocultural. Dessa forma , o contexto cultural é responsável por moldar os
comportamentos, as transformações e as evoluções ao longo do desenvolvimento.”.
(ROBEIRO; SILVA; CANEIRO).
É importante
ressaltar que cada indivíduo é um ser único, assim como seu processo de
aprendizado e desenvolvimento como um todo. Ao longo dos anos, muitas
instituições de ensino, começaram a ter um olhar diferenciado para o estudo da
Neurociências e educação e como aprender não se inicia apenas por conteúdos
sistematizados.
O aprender vai muito além, a criança deve está
apta, confortável e ter vivenciado diversas experiências, sejam elas
sensoriais, motoras e psicomotoras. Com todo esse estudo sobre a Neurociência e
também levando em conta os estudos de Vygotsky,
a Educação Infantil, passou a ser vista com um novo olhar, mesmo que nos
dias atuais, continue sendo desvalorizada. Sendo de extrema importância tirar a
Educação Infantil de um caráter assistencialista e colocá-la como uma
importante etapa do desenvolvimento humano, pode-se dizer, a mais importante.
Portanto, ela se torna um direito indispensável para as crianças e
principalmente, uma obrigação do governo
de investir nessa etapa da educação, com o intuito de contribuir para o bom
desenvolvimento do indivíduo em todo o seu período escolar. O Currículo em
Movimento do Distrito, enfatiza bastante
essa importância de tirar a Educação Infantil do viés assistencialista:
A Educação Infantil não é assistencial, tampouco
preparatória, pois trata-se de uma etapa da Educação Básica que abarca os
direitos de aprendizagem voltados às reais e atuais necessidades e interesses
das crianças no sentido de proporcionar seu desenvolvimento integral. (Currículo
em Movimento do Distrito Federal, 2018).
Ou seja, a
Educação Infantil, além de não ser assistencialista, ela não é focada em
conteúdos sistematizados e sim nas vivências tão importantes para a o
crescimento integral da criança. Jogos, brincadeiras e materiais adequados
(tinta, giz de cera, papel, massinha e etc),
surgem como alternativas para se trabalhar nessa fase, no entanto, não é
algo sem objetivo e sem organização, pois é fundamental, estabelecer os pontos
a serem trabalhados em cada brincadeira, atividade ou o uso de brinquedos, além da importância
da rotina, pois organização é primordial para uma ampliação qualificada de estímulos para o cérebro, como também
deixa claro o Currículo em Movimento do Distrito Federal.
A organização do trabalho pedagógico é de suma
importância na condução e consolidação do processo educativo, sobretudo na
Educação Infantil. Para orientar o trabalho pedagógico no desenvolvimento
infantil, é preciso promover uma ação educativa devidamente planejada, efetiva
e aberta ao processo avaliativo. Por isso, é imprescindível pensar os tempos,
os ambientes, os materiais , bem como as rotinas que são organizadas nesse
contexto educativo. (Currículo em Movimento do Distrito Federal, 2018).
Dentro desse
processo de desenvolvimento, a partir da entrada da criança na Educação
Infantil, a família e o ambiente familiar, tem um importante papel nesse
processo, pois não adianta escola desempenhar a função de
ensinar e estimular de maneira
integral, com rotina e instrumentos, sendo que em casa, a criança tem um
ambiente hostil e desorganizado. Como já foi dito anteriormente, a criança
necessita de afeto e organização para crescer de maneira saudável, por isso, a
importância de se ter políticas públicas que protejam a criança, não somente
focada na educação, mas também políticas sociais, pois o espaço social, também
deve ser um ambiente educador. Atualmente os direitos da criança e do
adolescente são garantidos através de lei específica que é o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA).
Art 3º - A criança e
o adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral que trata esta Lei, assegurando-lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de
lhes facilitar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
Art 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar.
Outro importante
teórico e estudioso do processo de
desenvolvimento da criança é Jean Piaget que o divide em estágios, de maneira
que, em cada estágio ocorre uma maturação para assim se passar para outra
etapa.
Vejamos:
- 1º período: sensório motor
(0 a 2 anos);
- 2º período: pré-operatório
(2 a 7 anos);
- 3º período: operações
concretas (7 a 11 ou 12 anos);
- 4º período: operações
formais (11 ou 12 anos em diante).
E para
ele, o desenvolvimento não está intrínseco a aprendizagem, ou seja, é um
processo biológico, não levando em conta todo a influencia do meio e das
interações sociais na qual o indivíduo está inserido, como aponta Vygotsky.
É no
processo escolar que geralmente as primeiras dificuldades de aprendizagem
começam a ficar evidentes e na maioria das vezes é o professor o primeiro a
observar. Em todo o caso, o mais indicado a se fazer é encaminhar para um estudo de caso para averiguar se há algum
transtorno ou apenas uma dificuldade momentânea, levando em conta que cada
indivíduo tem o seu processo.
Por isso,
a partir do momento que é detectado algo fora do comum, teste, exames e
relatórios devem ser feitos, pois quando mais cedo tiver um diagnóstico, melhor
para a intervenção, até porque o cérebro é um órgão privilegiado, por conta de
sua plasticidade, através de estímulos que recebe, seja em tratamento, ou em
diversos casos de aprendizagem, ou até mesmo involuntariamente.
O
psicopedagogo, atua principalmente nessa questão, ou seja, um mediador e
estimulador para sanar ou amenizar as dificuldades de aprendizagem, que atingem
principalmente o campo pedagógico. Intervenções pedagógicas, quando feitas
adequadamente, trazem grandes resultados não só no campo pedagógico, mas também
como qualidade de vida. Como exemplica Rota, Bridi Filho, Bridi:
Compreender que as intervenções no campo educativo são capazes de
alterar modos de aprender, comportamentos e ampliações nas construções
cognitivas construindo novos significados, reordenando ou organizando elementos
subjetivos é consenso no campo da educação e mais especificamente, da
pedagogia. (Rota; Bridi Filho; Bridi, 2018, p.1).
Quando fatores ambientais ocasionam o atraso
pedagógico e a dificuldade de aprendizagem, não há laudo específico, mas é
necessário um acompanhamento com profissionais adequados para as atividades,
que busquem despertar áreas adormecidas do cérebro, comecem a ser ativadas como
um meio de melhorar a aprendizagem e consequentemente contribuir para a vida
escolar do indivíduo. Lembrando que o acompanhamento feito ao indivíduo que
apresenta um atraso no campo pedagógico, deve ser contínuo, feito pela Sala de
Recurso e serviço de apoio da escola, para sanar o seu atraso e permitir que
outras questões não o afete, também, pois o atraso na aprendizagem, pode trazer
baixa auto estima e até mesmo a evasão escolar.