segunda-feira, 18 de julho de 2016


Lei Maria da Penha e seus desdobramentos.

             Os movimentos feministas, ao longo da história lutaram e ainda lutam pelo fim da violência contra as mulheres. A própria criação da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres (atualmente extinta pelo governo interino)  iniciada no governo Lula, foi fruto das pautas colocadas pelos movimentos sociais para o governo federal e  foi um grande avanço na busca por direitos das mulheres e principalmente de combate a violência. A Central de atendimento 180, ligada a SPM,  faz parte desse rol de conquistas que facilitam a denuncia de violência que mulheres sofrem e que têm consequências muito sérias em suas vidas. Como afirma Nalu Farias e Míriam Nobre(1997):

A violência impune humilha as mulheres e destrói seu amor próprio. É comum os homens iniciarem suas agressões quando as mulheres estão com pouco amor próprio e não se sentem capaz de reagir. Então, a atitude que pode parecer um consentimento com a situação de violência, revela uma relação de dependência , uma relação em que estão presentes mecanismos de coerção.(Farias e Nobre – pag 18).

                   A luta por justiça da Maria da Penha, ultrapassou barreiras e para conseguir seus direitos e punir seu ex-marido que tentou assassiná-la, Maria da Penha lutou muito. Porém, sua luta só ficou mais visível,quando houve interferência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, já que a Justiça brasileira tratou o caso com pouca importância.
          Dentre as Leis brasileiras, a Lei Maria da Penha é uma das mais populares, pelo fato da violência doméstica ser bastante comum, mesmo com a vigência da Lei. No entanto, também inspirou campanhas e pesquisas que buscam combater esse tipo de violência, além de  incentivar  mulheres a buscarem  ajudar do Estado contra a violência que sofrem.
                  Além da Central de Atendimento à denúncias de violência, a SPM também conta com a Rede de Enfrentamento à Violência contra a mulher, onde busca unir diversos setores do poder públicos, de ONGs e da sociedade civil em ações conjuntas de enfrentamento.

O conceito de rede de enfrentamento à violência contra as mulheres diz respeito à atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção; e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência. Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação e ao encaminhamento adequados as mulheres em  situação de violência; e à integralidade e à humanização do atendimento.(Site SPM/ Presidência).

Além desses programas algumas políticas públicas dos últimos governos (Lula e Dilma) que incentivaram a formação, a qualificação, inserção das mulheres no mercado de trabalho e a complementação de renda foram eficazes para a mudança de vida de muitas mulheres, já que muitas alcançaram sua autonomia financeira. Como os cursos técnicos federais, o ProUni e principalmente o Bolsa Família, todos esses programas comprovadamente, beneficiaram em sua maioria mulheres, mudando a realidade de muitas. Em 2014, o MEC divulgou que 59% das vagas do Programa Universidade Para Todos, foram preenchidas por mulheres, principalmente mulheres negras.
 Blay (2014) esclarece que as denúncias de violência contra as mulheres, desde o século XIX e XX, logo em seguida, passou-se um bom período sem enfatizar essa violência e voltou a  se intensificar principalmente na época da ditadura militar:

            A denúncia da violência contra a mulher voltou às manchetes através de novos papéis sociopolíticos desempenhados por elas na ditadura militar, a partir de 1964, ao expor as inaceitáveis condições de vida e de insegurança pública em que viviam.
        O desvendamento da violência de gênero culminou quando se desnudou a violência contra população negra e contra segmentos da diversidade sexual: a extraordinária taxa de assassinato de mulheres, de jovens negros e de pessoas com orientações sexuais diversas.
         Após décadas de denúncias, finalmente o movimento de mulheres e de feministas conseguiu sensibilizar governos: criaram-se as delegacias especializadas para a defesa da mulher. (Blay 2014)

A LMP contribui para que as DEAMs fossem implementadas de fato, também. É evidente que com a LMP, o debate e a importância de se interferir em situações de violência no ambiente familiar vieram a tona, uma vez que é consenso que processos de violência domestica não só prejudicam as mulheres, mas também seus filhos. Durante um longo período e pode ser dizer até hoje, o casamento sempre foi uma “instituição” de dominação masculina, ou seja, influenciada pelo patriarcado. O mais aceito é que homem trabalhe para o sustento da família, a mulher passiva cuide de todos os afazeres domésticos, dos filhos e ainda faça as vontades do marido, inclusive as sexuais. E mesmo as mulheres que também trabalham fora para complementação de renda da família, continuam tendo as mesmas obrigações domésticas, a chamada dupla jornada, ou seja, trabalhando muito mais que o homem.  E isso é uma questão cultural totalmente enraizada, utiliza-se até de argumentos biológicos pra essa questão, dizendo que a mulher naturalmente tem mais aptidão para os serviços domésticos e criação dos filhos e quando as mulheres conquistam o mercado de trabalho, ganha consideravelmente menos que os homens. Toda essa questão é uma forma de violência simbólica contra a mulher que culmina nas diversas outras violências, uma forma de reafirmar o poder do patriarcado sobre a vida das mulheres.
Muito mais que denúncia e punição dos agressores a LMP garante medidas protetivas às mulheres vítimas de violência que é desde o afastamento obrigatório do agressor, onde não pode se aproximar da vítima, até abrigos para mulheres que se sentem ameaçada pelo agressor, como deixa claro na Lei em seus artigos 22 e 23:

Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.

Outra ação que entra no rol de medidas protetivas e também é uma ação da Secretaria de Políticas para as Mulheres que é a “Casa da Mulher Brasileira”, que existe em vários estados brasileiros, inclusive no DF. A Casa serve como abrigo para aquelas mulheres que se encontram ameaçadas por seus agressores e não têm para onde ir, também é um lugar de refúgio e de grande assistência para essas mulheres vítimas de violência. Essa medida também está garantida na Lei, como foi citado nos artigos acima. A LMP prevê, ainda, a restituição de bens, caso a vítima tenho sido lesada pelo agressor e o mesmo não poderá vender nada do patrimônio fruto da relação, como fica claro no artigo 24:

Art. 24.  Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único.  Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.

Mas qual tem sido o papel da LMP no que tange uma mudança de postura social perante a toda violência que a mulher sofre ao longo do tempo? Se houve uma diminuição dos casos de violência no início de vigência da mesma e ao longo do tempo, houve um gradativo aumento, é necessário refletir o papel da LMP e se ela tem atingido de fato a problemática. O Brasil é um dos países com maiores números de homicídios. Como explicita o Mapa da Violência 2015:

        Com sua taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, o Brasil, num grupo de 83 países  com dados homogêneos, fornecidos pela Organização Mundial da Saúde, ocupa uma pouco recomendável 5ª posição, evidenciando que os índices locais excedem, em muito, os encontrados na maior parte dos países do mundo.


O maior exemplo de que a Lei Maria da Penha não  foi suficiente para pelo menos amenizar essa problemática foi a criação da Lei do Feminicídio que qualifica o assassinato de mulheres em situações de violência doméstico-familiar (casos definidos pela LMP). Muitos estudiosos  e juristas foram contrários a essa Lei aprovada no Congresso, porque já existe punição para crimes de homicídios, mas no caso do Feminicídio há uma tipificação do crime, como foi explicado anteriormente e consequentemente um aumento da pena, entrando no rol de crimes hediondos.

Sobre homicídio, encontra-se no artigo 121 do, Código Penal do  - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940  com inclusão das tipificações da Lei nº 13.104, de 2015:

                       
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.

É importante que as campanhas contra a violência à mulher, também sejam feitas direcionadas ao agressor, não somente no sentido de ameaça, mas também de reflexão, levando em conta que a mídia não contribui para isso, pelo fato de ser um dos meios que mais reproduz o machismo, pois o  machismo também escraviza os homens, pela cobrança do homem viril que reflete na masculinidade nociva, tão comum entre eles. O homem sensível é mal visto, motivo até mesmo de chacota e  tudo isso é uma forma de escravizar culturalmente os homens, também, pois são educados dentro de uma cultura machista, por mulheres que são vítimas do machismo e que sem perceber reproduzem tais práticas gerando essas divisões sexuais e também a homofobia, já que dentro dessa virilidade imposta, sentir afeto ou atração  por outro homem é considerado errado. Como esclarece Urra(2015):

Mulheres e homens ao nascerem, têm seu espaço simbólico, a priori, com determinadas características e certas funções, cercadas por um repertório de comportamentos esperados para conduta. Em nossa cultura são enfatizadas nos homens características como: honra, coragem, força, heroísmo, virilidade, ousadia, audácia, dentre outras. Por outro lado, são negadas características como medo, fragilidade, vergonha, sensibilidade, impotência e cautela. (Feminismo e  Masculinidades. Pg 126) .

       O reflexo dessa masculinidade que é imposta aos homens, também se reflete na violência, pois gera figura do homem agressivo e consequentemente possa vir a ser um agressor.


            

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Minhas incoerências como feminista!

Sou muito grata a tudo que o feminismo mudou em minha vida. Hoje me aceito mais, perdoo atitudes de companheiras e entendo. E vejo a cada dia mais mulheres se libertando dessas amarras invisíveis que nos prendem, amarras essas, frutos desse sistema capitalista que nos oprime. Mesmo assim, devo admitir que é um processo e em alguns casos, um processo lento e árduo.
Militei em movimento estudantil, partido, movimento social, sempre levantando a bandeira do feminismo com muito orgulho, agora chegando aos 30, resolvi dar um tempo de tudo isso e voltar todo esse feminismo pra dentro de mim. Uma forma de me questionar como eu coloco o meu feminismo em minhas relações pessoais. E é exatamente nesse ponto que comecei a perceber minhas contradições. 
Tinha uns conflitos com minha mãe, então comecei a me questionar isso, pedi perdão e melhorei essa relação com a pessoa mais importante da minha vida e que é meu maior exemplo de mulher lutadora. Outra questão foi em relação as amizades e relações amorosas, e meus erros nesses casos. Resolvi pedi perdão pra todas as minas que de alguma forma tive conflito, principalmente, se o conflito envolveu algum homem no meio. Foi um grande peso tirado das minhas costas. E daqui pra frente não quero conflito com mulher nenhuma, quero é estar junto na luta e no dia a dia, aprendendo com suas vivências e tudo mais.
Mas como “pecadora”, tem um ponto que ainda não consegui resolver, ou ainda estou resolvendo. Ser empoderada, não te faz uma mulher menos carente, acho que isso rola até mais, pois homens não topam uma relação onde eles tenham que desconstruir privilégios e nem se envolver com mulheres que sabem o que querem. Falo da carência de sentimento mesmo, pois sexo é fácil de achar por aí e até caras legais, mas falo de companheirismo. Em um mundo onde pra muitos homens a aparência vale mais, as novinhas são preferência e aquelas minas fora dos padrões, acabam na solidão mesmo, isso fica bem mais difícil. É isso que acontece na maioria das vezes e o mais triste é saber que esse desprezo vem de companheiros de luta. Voltando a falar do meu pecado, mesmo com todo esse meu empoderamento, ainda cometi certas falhas e fiquei com homens machistas que tratam mulheres apenas como diversão ou colocam apenas uma no pedestal e sacaneiam as outras. Pois é, quando se fica muito tempo sozinha, quando se é agredida por um homem, qualquer sinal de atenção é uma grande coisa e a gente se entrega, mesmo sabendo que o cara é mulherengo, machista e etc...Se entrega, se apega, acha que o cara vai mudar, silencia em relação a algumas atitudes do cara e se entrega, nem por prazer, pois há outros bem melhores na cama, mas por pura carência. E precisa alguém de fora apontar essa sua contradição. Foi assim que aconteceu comigo. Um simples comentário no facebook,uma moça linda que nem citou meu nome, mas me fez eu me enxergar e parar pra pensar como ainda sou incoerente em certas atitudes.Me arrependo, mas sigo em frente, porque é necessário ter uma reflexão sobre os nossos atos, principalmente os falhos, esses que nos faz incoerentes em nosso discurso. E dói saber que somos trocadas, que não somos valorizadas, o sofrimento é inevitável, tudo isso dói muito, mas passa e te fortalece. Por isso, digo que devemos entrar em relações de maneira lúcida e sem esquecer dos nossos discursos, porque homem babaca, sempre dar seus sinais de que é babaca e nós insistimos nessas relações com consciência dos nossos atos, mesmo nos afirmando super empoderadas. 
Hoje estou tentando me amar mais e me policiando pra não cair nessas ciladas de carência e desejando o bem para esse cara também, que ele reflita sobre seu machismo. Me envolvi, tendo plena a certeza de quem era a pessoa e de seus atos, por isso me culpo. Mas daqui pra frente será melhor. Ando conhecendo e dialogando com pessoas legais, sem carência, deixando as coisas acontecerem e sem pressa pra ser feliz e sempre levando comigo meus ideais. E para aquelas mulheres que tiveram desavenças comigo por causa de homens, eu peço perdão. Somos muito maiores que tudo isso e o bom da vida é amadurecer!
Sejamos felizes! 
Emoticon heart
Karlinha Ramalho

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Impressões sobre o Bolsa Família...

O Programa Bolsa Família é um dos programas sociais mais consolidados no governo petista, ao longo desses mais de doze anos. Muito ligado ao combate a pobreza no Brasil, o programa teve início dentro de um debate de como erradicar a fome do Brasil de uma maneira mais imediata e também ligada a uma inserção social de grupos específicos que viviam na linha da pobreza e de extrema exclusão social. Pode-se dizer que esse debate de erradicação da fome, teve início com o programa “Fome Zero” , programa que foi “carro chefe” na campanha de Lula para as eleições de 2002.  O programa “Fome Zero” não se consolidou no governo, mas trouxe a tona o debate da Fome e da extrema pobreza, desmembrando para diversos programas sociais.
O Bolsa Família, pode ter surgido desse debate de diversos meios como acabar com a  fome no Brasil e principalmente acabar com a causa da fome, já que o programa quebrou um ciclo de “predestinação” , que ocorria principalmente no interior do país. Ciclo esse que se quebra a partir do momento que para se está inserido dentro do programa, as famílias deve colocar as crianças na escola, ou seja,  não precisam trabalhar para complementar a renda de casa, pois o governo através do BF complementa a renda.
A questão de gênero levantada no programa é que o dinheiro é dado na mão da mãe, em muitos casos, as mulheres são “chefes de família”  nos lugares mais pobres e as únicas responsáveis pela educação dos filhos. O que deve levar em conta que a partir do momento que este benefício é entregue na mão da mulher, gera uma certa autonomia, dentro de lares que culturalmente quem domina é o homem. Mas o fator principal é que culturalmente, as mulheres são as responsáveis pela educação dos filhos e dos cuidados do lar e com isso, sabem mais onde melhor será utilizado o dinheiro do benefício.
Por outro lado, esse fator também ajuda a manter o status da mulher como a única responsável pelo lar e pelos filhos, já que essa tarefa deve ser dividida com o homem.
O BF também tem um papel de controle social, além de ser sim, um programa assistencialista. Esse controle das famílias beneficiadas é feito através de um Cadastro único que também é feito com o auxilio dos municípios e vai para além do acompanhamento do recebimento do dinheiro. Há o acompanhamento da freqüência escolar das crianças, além do cadastro para o acompanhamento das crianças nos atendimento pelo SUS.
Vale ressaltar que por ser tratar de uma ajuda que não é tão grande, não impede que muitas mulheres, busquem outra fonte de renda fora do lar. Pesquisas comprovam que é isso que vem acontecendo ultimamente, principalmente pelo programa ter seu início como um meio de combate a fome de uma maneira quase que imediata e pode-se dizer que deu certo, pois atualmente o Brasil saiu da linha da pobreza.


 Karlinha Ramalho



sexta-feira, 16 de outubro de 2015

PROUNI: ENTRE CRÍTICAS E DESAFIOS. UMA POLÍTICA PÚBLICA QUE DEU CERTO.

                O Programa Universidade para Todos (PROUNI), completou 10 anos em 2015. Criado pelo governo Lula em seu primeiro mandado, o programa foi alvo de críticas, mas se consolidou e hoje é preciso  considerá-lo como  uma política pública que deu certo. Os principais argumentos eram que o governo estava dando subsídios às faculdades particulares, deixando de investir em universidades públicas. No entanto, é preciso analisar o contexto da época, antes de fazer críticas sem embasamento.
Quando Lula assumiu a presidência, o número de universidades públicas era bem menor em relação aos dias atuais. No governo Fernando Henrique Cardoso, o investimento em  universidades foi nitidamente inferior, comparado ao número de universidades construídas no governo Lula e Dilma. No governo petista foram construídas 18 universidades e muito mais investimento em extensão universitária, enquanto no governo FHC, nenhuma universidade federal foi construída.
           As críticas negativas feitas ao ProUni,  foram superadas com resultados positivos para o Brasil, pois atualmente, o número de jovens no ensino superior é muito maior do que há dez anos atrás. Segundo o Censo, em 2013 houve em média 7,3 milhões de matrículas no ensino superior. Importante ressaltar que 55, 5% das matrículas foram feitas por mulheres.  Outro fator importante de ressaltar é que na última eleição para presidente, o número de eleitores com ensino superior, foi maior que o número de eleitores analfabetos.
O ProUni também inovou por utilizar como critério de avaliação o ENEM(Exame Nacional do Ensino Médio) que antes servia só para avaliação da qualidade do ensino médio no Brasil e na época,  encontrava-se defasado e ao longo do tempo, dentre falhas e contradições, o Enem sofreu adaptações e hoje é um dos principais meios de acesso ao ensino superior, não só particular, mas também, público. Adotado como sistema de entrada no ensino superior em diversas universidades públicas, inclusive a Universidade de Brasília(UnB).
É preciso ter consciência de que toda política pública assim que implementada, sofre críticas que devem ser levadas em conta para que a mesma sofra adaptações de acordo com o contexto e mudanças sociais. Com o ProUni não foi diferente. Ela foi uma política pública  bastante criticada e hoje, encontra-se consolidada. É preciso ter consciência que todo investimento em educação, principalmente em educação publica, não são imediatos e em sua maioria, demoram anos para se ter os resultados positivos(ou não) dos investimentos.
Nos dias de hoje se ver o resultado dessa política pública e que gerou também as cotas sociais nas universidades, o SISU e a reformulação do FIES. Hoje  o ensino superior pode ser uma opção para o jovem de baixa renda e não  mais um sonho distante. Desta forma, se quebra a hegemonia de que só os ricos têm acesso e assim mantendo “status quo” social de opressão  e desigualdade. Nos dias atuais,  um jovem de periferia, tem a opção de fazer o ensino superior.
Explicando porque de fato o ProUni é uma ação afirmativa, é preciso analisar um jovem de periferia há dez anos atrás, onde o acesso a universidade pública era quase impossível, o Ensino Médio encontrava-se defasado(ainda precisa de muitas mudanças). Quais eram as perspectivas desse jovem que terminava o ensino médio¿ Sem acesso a universidade pública e sem condições de pagar uma faculdade particular. O que seria desse jovem¿ O ProUni foi uma política publica de ação afirmativa do governo Lula que de maneira imediata, colocou esses jovens sem perspectivas no ensino superior, por isso, foi necessário esse subsídio para as faculdades particulares e hoje se colhe o resultado disso, com jovens oriundos de periferias, conquistando melhores empregos, com qualificação e formação e o acesso a universidade pública cada vez maior, principalmente pelo Enem e pelas cotas sociais e raciais. Com certeza é uma ação afirmativa que deu e vem dando certo.


FONTE:
http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/09/ensino-superior-registra-mais-de-7-3-milhoes-de-estudantes



sábado, 4 de julho de 2015

E São Sebastião nasceu em mim...


Sair de “TaguaYork”, uma cidade desenvolvida e com muitas opções de lazer e parar em uma cidade que nem sequer tinha asfalto, não foi muito atraente para alguém que entrava na adolescência. Pois foi isso que aconteceu comigo. Caí de pára quedas em São Sebastião e aqui estou até hoje.
Fui estudar na única escola de ensino médio que havia na época, o famoso Colégio Centrão (CEM 01), que se tornou celeiro dos principais ativistas culturais da cidade, até construírem o São Francisco, mais conhecido como Colégio Chicão, que deu continuidade a essa história. Tudo por causa de uma professora maluca chamada Leísa Sasso e de tantos outros professores que abraçaram suas idéias.  Uma boa lembrança desse tempo de escola eram os shows da banda Orgasmo. Banda que tinha uns dois cabeludos e um cara que dizia tocar baixo. Rapazes que até hoje estão por aqui fazendo música e militando e que são Dudu Cabeção, Emerson e Altair. Este último foi atrás do amor na Bahia… Eternamente, Orgasmo. Ops! Eles e mais alguns outros roqueiros criaram essa identidade underground que São Sebas tem.
Foi nesse Colégio Centrão que fiz parte de uns dos primeiros grupos de teatro daqui: “Os Sobrinhos do Seu Tião”. Nome esse que homenageava um pioneiro que chegou bem cedo por essas bandas de cá e deu seu nome a essa cidade. Não é “São”, mas é Tião Areia. E nessa mesma escola tinha um vigia metido à artista chamado Paulo Dagomé. E junto com ele, surgiu um grupo que “sarauzou” a cidade e rendeu frutos que hoje estão maduros. Foi no palco do SarauRadical que surgiram poetas, músicos e ativistas como: Don Ramalho, Thiago Alexander, Sueli Martins, Nanah Farias, Devana Babu, Vinícius Borba e tantos outros. De início reuniam-se na casa de um baiano arretado e talentoso chamado Máximo Mansur. Depois de lá ganharam os palcos de uma pizzaria e depois de todo o DF. E assim os Radicais Livres fizeram sua história por aqui e hoje rendeu frutos como: Super Nova e Levante Poético fazendo Domingo no Parque e Poesia de Quinta, respectivamente.
Aqui também é a cidade do Reggae Raiz e do Reggae Maranhense.  Quem lembra da Casa de Reggae que tinha em frente à Praça La Bodeguita? (Porque esse nome?) Turma boa da vitrola, só mandando “pedradas”. Aliás, nordestino aqui é que não falta, principalmente, maranhense, piauiense e baiano.  E pra continuar essa história regueira, reside aqui o único grupo Rastafári do DF, o famoso Congo Nya, que por aqui faz história e muda muitas histórias. E a praça até hoje continua sendo a do Reggae. Porque o “Reggae na Praça” continua vivo, graças ao Calango Rasta que não deixa essa cultura morrer. Valeu Samuka e Rodrigo Allman!!!
E se o samba nasceu na favela, aqui não poderia faltar, porque tem Kaoka, Pura Pegada e Sambativo que não deixam o samba morrer. Fazendo uma Roda de Samba linda. É o projeto São Samba fazendo acontecer.
E para os artistas e malucos que passam por aqui, tem a casa mais feminista de todas. CASA FRIDA. Disseminando FEMINISMO, REVOLUÇÃO, IGUALDADE, DIVERSIDADE E AMOOOOOOR.  Tudo puxado por uma baiana cheia de dengo e dendê… rs! Né, Hellen Cristhian? E as mulheres daqui são tão empoderadas que fizeram até um Cine Clube Feminista para fazer formação feminista por toda a cidade. As mulheres cantam e escrevem, produzem um fanzine e tudo “De Salto Alto”, pois por baixo elas não ficam.
O IFB daqui é diferenciado, pois uma professora sonhadora muda realidades das alunas e alunos com aulas e eventos transformadores. Né, Letícia Érica?
E se é pra falar de rap, São Sebastião faz história com: Imagem de Rua, Diga How, Criolas, Atitude Feminina e GM Rap que levam com orgulho o nome cidade, onde quer que se apresentem.
A galera aqui é tão organizada que o Fórum das Entidades Sociais foi exemplo para todas as outras cidades do DF e continua organizado, ativo e participativo.
Aqui as crianças têm voz e vez, tudo por causa da Ludocriarte. Brinquedoteca Pública da cidade, com crianças lindas que adoram ouvir as histórias do Tio Isaac Mendes.
.E se aqui tem povo inteligente é porque a Biblioteca do Bosque traz muito aprendizado e incentivo à leitura. Valeu Sebastião e Dona Dilma!
E como tem artista nesta cidade, viu! Pintam e bordam. Chibi Ahou (Diva dos cabelos maravilhosos e dos desenhos lindos), Ricardo Caldeira( anotem esse nome), Carlione (sou fã), Estela Sena, Nanda Pimenta (poetiza mais performática da cidade), Anne Botelho (artista viajante),  Bia Estiano (vi arranhando os primeiros acordes e hoje destrói no violão), Edvair Ribeiro, Priscilla Sena (Diva Black), Luiz Próton, Tiago Xavier( o eclético), Kevinny, Zeca Oreba, Marcius Cabral (nosso Rei do Blues) e o saudoso Nelson Poeta, que se foi, mas deixou seu legado de poesias em nossos corações…
Pra quem gosta de “Modão”, a dupla Fábio Jr. e Sideron, capricha no “Modão” e arrebentam na viola caipira. Porque goiano aqui também tem de monte. Tem até um coletivo de violeiros chamado: “Amigos da Viola”. Pense num trem bão!
Tem picadeiro, malabarista e mágica, porque o circo armou sua tenda aqui por tempo indeterminado, fazendo criança voar e andar nas alturas, tudo isso com a ajuda de uma perna de pau, claro. Graças a um palhaço “riponga” que faz com que esse espetáculo não pare. Um tal de Eduardo Marruci. E se aparecer do nada, um coelho da cartola é porque o Jefferson Duprado é profissional na mágica. Assim o circo fica completo!
Parafraseando Raul Seixas… É melhor ser metamorfose ambulante do que ficar na mesmice. Por isso o Instituto Metamorfose, vem descobrindo talentosos artistas plásticos e colorindo os muros das escolas da cidade. E, esses dias, descobri que o Chico Metamorfose ainda canta! Acompanhado da molecada Instituto que não para de fazer arte por aqui.
E quando assunto é festa junina aqui só tem quadrilha campeã. Estão aí a “Num só Piscar” e a “Formiga da Roça” que não me deixam mentir.
É isso. Essa Quebrada de Rocha que foi tão importante pra capital, pois foi do nosso barro que saíram os tijolos para os palácios. É a eterna Olaria, Agrovila, favela, periferia revolucionária. E é por isso que ela nasceu não só do barro, mas nasceu de seu povo. Nasceu aqui dentro do meu coração, minha cidade querida, que nasceu em mim.
Parabéns São Sebastião. 22 anos de puro amor!

Obs: Pra fazer revolução, a quebrada precisa de união. Nossos inimigos são outros!

sexta-feira, 17 de abril de 2015

DIREITOS HUMANOS PRA TODOS OU PRA POUCOS?


A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), aprovada pela ONU em 1945, foi um marco para a história,pois foi através dessa declaração que se estabeleceu a proteção universal dos direitos humanos e passou-se a reconhecer todos como ser de direitos, independente de cor, raça, sexo, idade, religião, opinião política, orientação sexual e etc. Uma das motivações da DUDH foi a denúncia do holocausto ocorrido durante a segunda guerra mundial e que teve como consequência o genocídio de cinco milhões de judeus pelo governo da Alemanha Nazista de Adolf Hitler.
É fato que o holocausto foi uma barbárie e que jamais deve ser esquecido, mas também é preciso lembrar que a escravidão dos negros em quase todo o mundo também foi e é um holocausto e muito mais duradouro, pois perdura ainda no presente. Apesar disso não houve reparação e nem uma mudança significativa na vida dos negros que ainda sofrem com o racismo (termo esse que foi extinto pela ciência antes mesmo do ato ser também extirpado). Devemos lembrar que assim como os judeus foram expulsos de seu território, os negros foram retirados de suas nações e levados a diversos países em condições sub-humanas nos chamados Navios Negreiros e vários não chegavam vivos ao destino dos “seus senhores”. Contudo, esse holocausto não foi e nem é o suficiente para inspirar uma Declaração efetiva capaz de defender todos os povos. O sistema carcerário brasileiro e estadunidense são provas mais do que concretas de que nenhuma DUDH olhou pela população negra.
Trazendo o debate da escravidão aos dias hoje e principalmente para o Brasil, é importante lembrar que a escravidão que o Povo Negro sofreu não teve reparação. A segregação racial e a intolerância estão presentes na sociedade, resquícios dessa vergonhosa fase da historia do país. Lembrando que o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão e continua sendo um dos que mais discrimina o seu Povo Negro.
A Lei Áurea não foi nada mais do que uma lei assinada por interesses da elite e não libertou ninguém, naquele momento os escravos lutaram pela própria liberdade fugindo para os Quilombos. Para se ter uma ideia, o dia posterior à assinatura dessa Lei foi o dia mais longo de todos, tão longo que perdura até hoje, ou seja, nos Quilombos Urbanos chamados de favelas, guetos e periferias. O Povo Negro do Brasil é assassinado todos os dias pelos “capitães-do-mato” atualmente conhecidos pela alcunha de polícia militar. Os “capitães-do-mato” agem em nome do Estado. Estado esse que ao longo do tempo só serve aos interesses de uma elite. Nada muito diferente da época da escravidão declarada.
A Declaração existe, é lei, é Universal, mas mesmo assim, os Direitos da Pessoa Humana continuam sendo burlados e as desigualdades cada dia mais latentes. Por isso a luta dos Movimentos Sociais é legítima, pois reivindica nada mais do que já está declarado formalmente. Sejam eles, movimentos de mulheres, negros, indígenas, homossexuais e demais grupos “marginalizados” que tiveram seus direitos burlados por governos que nunca quiseram reparar injustiças pois foi e é influenciado por uma elite que domina vários setores do Estado, o tornando cada dia mais opressor.
Uma forma de reparação dessas desigualdades é a criação de Políticas Públicas, onde as pautas devem ser colocadas pelos movimentos sociais. Necessitamos de uma democracia mais participativa para que as reais vozes da sociedade sejam de fato escutadas e as leis sejam elaboradas em conformidade com o verdadeiro sentido da democracia, pois até hoje os senhores de engenho dominam o território e a quantidade de escravos só aumentou (e não são apenas negros). O governo deve ter a função de reconhecer essas desigualdades e tentar reparar através de Políticas Públicas Afirmativas. Este seria apenas um dos caminhos para um o começo de uma construção de uma sociedade igualitária.

*Esse texto foi uma das atividades da minha pós em: Gênero e Raça - UnB

Karlinha Ramalho

Revisão: Lisa Alves




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